Mano Brown: prudência nas decisões

Mano Brown: prudência nas decisões

Mano Brown tem uma carreira construída com prudência. O artista é integrante dos Racionais, uma banda que faz parte da história da música brasileira e que passa totalmente por fora das questões de marketing de qualquer tipo de artifício. Podemos ver essa característica, prudência, no Mano Brown e em Os Racionais. A habilidade de se conter um pouco mais, que sabe falar sobre repercussões, pensa um pouco sobre o revés que poderia dar um passo em falso.
Seja a respeito de mídia ou música, eles são muito concretos e seguros, dão um passo de cada vez. Isso, porque construíram um legado com muito tempo e com muito esforço e sem artifícios. Mano Brown tem isso na hora de falar, um passo de cada vez, muita cautela e, na dúvida, não toma decisão.

Mano Brown

Pedro Paulo Soares Pereira nasceu na cidade de São Paulo em 22 de abril de 1970. Mano Brown é filho de dona Ana, falecida em dezembro de 2016. Ele cresceu na periferia da cidade no bairro do Capão Redondo (Parque Santo Antônio), extremo sul de São Paulo. Mano Brown nunca conheceu seu pai, porém uma publicação revelou que seu pai possuía origens italianas. Quanto à dona Ana, Brown a homenageia em letras suas. Numa delas, em Negro Drama, diz: “Aí, dona Ana, sem palavras, a senhora é uma rainha!”. Em 1986, ganhou o apelido Brown nas rodas de samba, em que toca repique de mão e faz algumas batidas inspiradas no funk norte-americano. Os companheiros da roda, então, comparam-no a James Brown (1933-2006). Escreveu a primeira letra de música aos 17 anos. A composição, “Terror da Vizinhança”, não foi gravada. No mesmo período, frequentou o Metrô São Bento, onde acontecem os encontros entre os artistas de rap de São Paulo. Formou a dupla de rap BB Boys com o amigo de infância Ice blue.

Carreira

Mano Brown e Ice Blue conheceram Edi Rock (1970) e KL Jay (1969) no fim dos anos 1980. Os quatro se juntaram e formaram os Racionais MC’s. A coletânea Consciência Black levou as primeiras músicas do grupo: “Pânico na Zona Sul” (de Mano Brown) e “Tempos Difíceis” (de Edi Rock). O grupo gravou cinco discos: Holocausto Urbano (1990), Escolha Seu Caminho (1993), Raio X Brasil (1994), Sobrevivendo no Inferno (1997) e Nada Como Um Dia Após o Outro Dia (2002). Mano Brown é autor de canções como “Vida Loka I”, “Vida Loka II”, “Negro Drama” (com Edi Rock), “A Vida é Desafio”, “Jesus Chorou”, “Da Ponte pra Cá”, “Capítulo 4, Versículo 3”, “Tô Ouvindo Alguém Me Chamar”, “Diário de um Detento”, “Fórmula Mágica da Paz”, “Homem na Estrada”, “Fim de Semana no Parque” (com Edi Rock), “Mano Na Porta do Bar”, “Negro Limitado” (com Edi Rock), “Pânico na Zona Sul” e “Eu Sou 157”. Em 2015, Mano Brown aceitou a parceria com o cantor Naldo Benny para juntos gravarem a canção “Benny & Brown”. O videoclipe foi gravado no Capão Redondo e no Complexo da Maré, entre outras locações nas duas cidades (Rio de Janeiro e São Paulo). Em 2016, a revista Rolling Stone Brasil elegeu Boogie Naipe como o 4º melhor disco brasileiro de 2016. Em 2017, a obra foi indicada ao Grammy Latino de 2017 de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa. Sem lançar disco com os Racionais, Brown criou o coletivo Big Ben Bang Johnson, em 2009, com outros artistas de rap, como Ice Blue, Helião, Sandrão e DJ Cia (integrantes do grupo RZO), Dom Pixote e Du Bronx (integrantes do grupo Rosana Bronx). O grupo não tem formação nem repertório fixos e apresenta-se regularmente na noite paulistana. Em 2010, Brown participou da gravação de uma versão da música “Umbabarauma”, de Jorge Ben Jor (1942), em uma ação promocional de material esportivo para a Copa do Mundo daquele ano. Dois anos depois, compôs “Mil Faces de um Homem Leal” (Marighella), para um documentário sobre o guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969), do diretor Silvio Tendler (1950).

Carreira Solo

Mano Brown iniciou carreira solo, lançando seu primeiro CD no mês de dezembro de 2016, denominado Boogie Naipe (mesmo nome da gravadora cujo rapper e sua esposa são proprietários). Seu parceiro Lino Krizz fez participação em quase todas as músicas. Sua levada vai do soul ao funk das antigas e suas referências são Marvin Gaye entre outros artistas que tocavam nos bailes blacks dos anos 70 e 80.

Prisões

Mano Brown chegou a ser preso em 2004 por desacato à autoridade ao tentar agredir policiais militares, após perseguirem Brown até sua casa e terem descoberto um cigarro de maconha. No dia seguinte, foi solto após pagar fiança. Em 2007, ele se envolveu em uma briga em um jogo do clube do time pelo qual torce, o Santos Futebol Clube, onde também é associado a Torcida Jovem do Santos. Foi detido e em seguida solto por falta de provas. Em 2015, Mano Brown foi detido por desacato, desobediência e resistência à prisão, após ser parado em uma Blitz da Polícia Militar no bairro de Vila Andrade, zona sul de São Paulo. Segundo a PM, a habilitação e o IPVA do veículo que dirigia estavam vencidos desde 2012. O então secretário de direitos humanos da cidade de São Paulo, Eduardo Suplicy, saiu em defesa de Mano Brown, alegando abuso de autoridade por parte dos policiais que abordaram o rapper.

Álbuns

Álbuns com Racionais MC’s

1990 – Holocausto Urbano 1992 – Escolha o Seu Caminho 1993 – Raio-X do Brasil 1997 – Sobrevivendo no Inferno 2001 – Racionais MC’s Ao Vivo 2002 – Nada como um Dia Após o Outro Dia 2006 – 1000 Trutas, 1000 Tretas 2014 – Cores e Valores

Álbuns solo

2016 – Boogie Naipe

Importância de Mano Brown para o rap

Mano Brown é um dos artistas mais importantes do rap brasileiro, o que estabelece um estilo dentro do gênero. Suas letras registram a linguagem do jovem morador da periferia paulistana, no uso das gírias e vocabulário. É seguido por uma legião de fãs, que reconhecem nele uma voz que os representa na sociedade. Suas letras retratam situações cotidianas da periferia paulistana e, muitas vezes, ele se coloca no papel dos personagens marginalizados nas músicas que canta. “Homem na Estrada” retrata a dificuldade de um ex-presidiário em retomar uma vida social digna. “Diário de Um Detento”, por sua vez, narra, em primeira pessoa, os acontecimentos referentes ao massacre do Carandiru, que resulta na morte de 111 presos, sob a ótica de um detento (Jocenir Prado, coautor da música). “Tô Ouvindo Alguém me Chamar” traz os conflitos morais de um traficante de drogas e “Artigo 157” é o relato do dia a dia de um assaltante. A escrita detalhada, a presença de um narrador e a sequência cronológica fazem com que alguns de seus raps sejam comparados com as narrativas jornalística e cinematográfica. A fluência com que canta é reconhecida graças ao ritmo e harmonia, com divisões próprias e timbre de voz potente. Seu estilo de compor, inicialmente, apresenta uma mensagem direta, com poucos versos, como o rap “Pânico na Zona Sul”, e influências do discurso do líder negro norte-americano Malcolm X (1925-1965), citado na letra de “Voz Ativa”. A partir do disco Raio X Brasil, escreve letras mais longas e propõe que o ouvinte tire suas próprias conclusões sobre o significado delas. No disco Sobrevivendo no Inferno, em músicas como “Diário de um Detento” e “Tô Ouvindo Alguém me Chamar”, Brown narra experiências em primeira pessoa com letras ainda maiores. Em “Nada Como um Dia Após o Outro Dia”, o rapper segue fiel ao método detalhista, mas traz reflexões novas sobre o sucesso artístico e a aparência. Depois do lançamento de Sobrevivendo no Inferno, Mano Brown reconhece essa diferença no processo criativo, em entrevista para a revista Caros Amigos. Afirma rejeitar músicas como “Pânico na Zona Sul” e “Voz Ativa” que, segundo ele, são “confusas”, compostas com receio do uso de gírias e palavrões que o distanciam do público. O discurso e a postura do rapper mudam com o tempo. Nos primeiros anos de carreira, ele defendia a atitude radical dos Racionais MC’s de fazer shows apenas para o público pobre e não conceder entrevistas à grande mídia. A partir dos anos 2000, ele abriu exceções a veículos como a revista Rolling Stone Brasil, Jornal da Tarde e programas da TV Cultura, como Ensaio e Roda Viva. Neste mesmo período, tornaram-se mais comuns as apresentações do grupo em clubes de classe média e alta, pelo dinheiro pago nestas ocasiões. A gravação de “Umbabarauma”, promovida por uma grande marca de material esportivo, é justificada pelo cachê pago, além da oportunidade de gravar em parceria com seu ídolo, Jorge Ben Jor.

Parceria com Jorge Bem Jor

A influência de Jorge Ben Jor é a mais marcante na obra de Mano Brown e reflete em sua vida pessoal. O nome de seus filhos são homenagem ao ídolo: Kaire Jorge e Domênica (Ben Jor tem uma música chamada “Domenica Domingava Num Domingo Linda Tôda de Branco”, gravada no disco Força Bruta, de 1970). Além disso, Ben Jor é citado na obra de Os Racionais em outros momentos: versos dele são sampleados (extraídos e reeditados) no refrão de “Fim de Semana no Parque”; a música “Jorge da Capadócia” é regravada pelo grupo no disco Sobrevivendo no Inferno; e Ben Jor participa do primeiro DVD do grupo, Mil Tretas, Mil Trutas. No programa Ensaio, da TV Cultura, Brown cita também Benito di Paula, Agepê, Roberto Ribeiro, Luiz Ayrão e Fundo de Quintal como referências. O grupo de rap norte-americano Public Enemy e o artista jamaicano Bob Marley também são inspirações. Brown refere-se ao músico de reggae como “filho de pai branco e mãe negra, como eu. Era um cara que ficou rico morando dentro de uma favela”, em entrevista a Caros Amigos, em 1998.
Douglas Inácio
Douglas Inácio
Douglas Inácio é empreendedor / infoprodutor paulistano, formado em Publicidade e Propaganda Pela Universidade São Judas Tadeu. Consultor de marketing com mais de 8 anos de experiência. Palestrante. Autor do Livro Youtube Para Música e criador dos cursos Marketing Sertanejo e Youtube para música. Já participou da fundação de diversas empresas de sucesso e atualmente se divide entre suas 2 empresas, uma em São Paulo (Produtora Quality) e uma no Ceará (Gráfica Fortaleza) é também empresário do cantor Marcello Vox. Sua paixão é compartilhar conhecimento na internet nos temas de desenvolvimento pessoal, marketing e empreendedorismo.

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